Apaixonada por Jane Eyre





“Nós abrimos Jane Eyre e somos envolvidos pela genialidade, veemência e indignação de Charlotte Brontë. É o intenso brilho vermelho do fogo do coração que ilumina suas páginas”.

-- Virginia Woolf

Apaixonada por Jane Eyre


6 de Novembro de 2013 - Autoria de Naiara Pinto

Primeiro devo explicar o título: Apaixonada por Jane Eyre. Vamos então à definição de paixão, segundo o dicionário Michaelis ao que me cabe: 1 Sentimento forte, como o amor, o ódio etc. […]4 Gosto muito vivo, acentuada predileção por alguma coisa. Segundo, gostaria de dizer que não sou uma fanática por Charlotte Brontë, mas, sim, uma grande admiradora do seu trabalho incrível e inspirador. E quero dizer que aqui em meus sentimentos, expressarei muitas vezes com palavras repetidas, sem sinônimos, com expressões já ditas e mencionadas em frases anteriores o que sinto, pois o que eu sinto, sinto em dobro ou até em triplo e preciso enfatizá-las.
Confesso a vocês que, quando li a sinopse de Jane Eyre, tive uma impressão errada sobre a história. Achei que seria sobre uma mulher inconformada com a pobreza em busca de um futuro vantajoso ao lado, talvez, de um homem rico. Peço que perdoem minha ignorância, mas, sempre li os livros de Jane Austen e achei que talvez ela seguisse a mesma linha de raciocínio que a autora (não que Jane em seus livros fosse em busca do interesse material, todavia, Jane aborda com grande tenacidade o fato dos casamentos vantajosos da época serem a "salvação" para as moças pobres, mesmo que com um ponto de vista crítico em que suas personagens pouco dão importância a fortuna, pois estas são mais feministas e se apegam a valores morais).
Charlotte coloca a vida de Jane em várias etapas, começando por sua infância. Jane Eyre é uma menina órfã que mora com uma tia e primos que a maltratam. Existe Bessie, a babá, que não chega a maltratá-la, mas também não chega a ser um grande consolo. Ainda nesta parte, quando Jane fica doente e, por conta de ter de ficar no quarto vermelho (quarto onde seu tio morrera), cai em grande depressão e tristeza; mantenho meus pensamentos do inicio, isso porque, quando o médico que está cuidando de sua saúde lhe pergunta se ela seria mais feliz se vivesse com seus outros parentes, Jane diz que não, pois acredita que sejam pobres. Mas ela explica ao leitor, que uma criança não tem noção da imensidão da pobreza e sempre imagina o pior (Isso acontece, pois Jane narra sua história já adulta), mesmo assim continuei convicta em minha ideia.
Já no orfanato, sinto grande comiseração por Jane. A menina – não só ela, mas todas que lá habitam – vivem em uma situação precária e degradante. Jane ainda se mostra muito ressentida, é humilhada pelo pastor do colégio e tem uma revolta crescente em seu coração. Descobre que Lowood é na verdade um orfanato e não um colégio interno. Em meio a essa turbulência, ela conhece a alma nobre e gentil de Hellen. É ai que começo a me emocionar. Jane descreve com tanta veemência e com tanto amor aquela menina, que me impressiono. A descrição do sorriso; das feições; do comportamento, é tudo incrível e rico em detalhes. Me apaixono por Ellen também, por suas maneiras e sabias palavras.
Quando finalmente esse estágio da infância passa e Jane Eyre chega a sua fase adulta, me orgulho e percebo que estava enganada. Eyre é uma mulher cheia de anseios e desejos que vão além das conformidades. Sim, é uma pessoa que busca algo a mais, mas não dinheiro ou riquezas, ela busca ser útil e capaz. Tem um desejo forte de conhecer o mundo e anseia por agitação.
Em busca de tudo isso, Jane é levada a Thornfield Hall, onde conhece seu patrão o Sr. Rochester. Claro, fico ansiosa para ver no que vai dar. No começo gosto do rumo das coisas, percebo que Edward tenta se aproximar de Jane e fico contente, mas, então, ele consegue me pregar peças e me engana completamente, me faz ter raiva e ficar revoltada com seu comportamento.
Sim, caro leitor, seu comportamento me deixa exasperada, pois ele demonstra forte inclinação por uma moça bela de boa família. Mesmo não tendo o conhecimento, nem o discernimento necessário para esse tipo de conjecturas, acredito que tudo isso que Charlotte aborda é bem proposital. Vou explicar: Edwrad é rico, Jane apenas uma preceptora, para manter e aumentar os prestígios e as riquezas é necessário se casar com alguém da mesma estirpe, e, quando Jane percebe que Edward não tem o seu coração na mulher que ele “aparentemente” corteja, uma chama queima dentro de si: a chama da revolta pelos princípios materiais os quais ela rejeita.
É incrível como Charlotte era criativa e usava suas palavras com sabedoria. Sua inteligência me deixa em êxtase, cada palavra; cada frase; cada movimento expresso, seja dos personagens, das flores, do ambiente, é um mergulho em uma mente genial e nobre.
Percebo que Jane equilibra os preceitos religiosos com os anseios humanos, sem hipocrisia, ela abre seu coração e sentimentos de maneira bem franca. Se irônica em algumas partes ou não, sem a clareza dela, isso eu não fui capaz de captar, mas sei que, tendo o coração em Deus, Jane luta para fazer o certo, em meio à tentação, quando descobre que Edward é casado. Ela se vê entre o certo e o errado. Ela se vê entre os preceitos morais e o coração. Uma luta é travada dentro de si, e Charlotte consegue nos fazer sentir o mesmo que Jane; consegue transmitir perfeitamente as sensações.
Daí para frente, minha admiração só aumenta e dentro do meu coração ferve uma vontade, uma força, uma curiosidade e uma tristeza. Sinto vontade de expressar minha apreciação assídua por sua obra, sinto a força de Jane em sua batalha pela sobrevivência tanto física como espiritual, fico curiosa para saber o rumo da história e me sinto triste de saber que estou chegando ao fim. Leio o último capítulo: choro. Sento-me à mesa, abro meu notebook e escrevo; escrevo essas palavras que me frustram, pois não consigo colocar nessas páginas a verdadeira sensação, a verdadeira chama flamejante que incendeia meu peito; não consigo formar a poesia perfeita para transpor aqui tudo o que senti quando mergulhei na mente da apaixonante Charlotte. Mas seria impossível.
Ela não só consegue nos fazer sentir o que Jane está sentindo, como consegue nos fazer, de certa forma, ser a própria Jane. E isso é o que todo escritor preza, quando consegue fazer com que seus leitores se identifiquem; que eles sejam os próprios personagens; que eles vivam o momento; que eles se apaixonem. Eu me apaixonei pelo Sr. Rochester, amei a pequena Adéle e fui cativada pela Sra. Fairfax.
Devemos mesmo como dizem, tirar o chapéu às irmãs Brontë, apesar de eu não ter o mesmo amor com as outras, como tenho por Charlotte, pois esta, para mim, é a melhor de todas. Consigo enxergar não só a ambição de um bom trabalho, mas o coração inteiro em cada linha toldada por sua mente brilhante; mente que Deus abençoou sem poupar em seus ingredientes ao formá-la.


[1 NOTA]

Existe outro fator que também torna a leitura de fácil entendimento e a história envolvente, mas dessa vez não será de Charlotte que irei falar. Gostaria de dizer que Heloísa Teixeira captou muito bem a essência do livro, digo isso, porque faço curso de tradução e sei que fazer esse trabalho, não é apenas pegar as palavras e colocar seus significados "puros", é necessário estudar as situações e trazer as expressões para nossa realidade. Acho que ela fez isso muito bem, mantendo-se o mais fiel possível do texto original. Parabéns Heloísa!


[2 NOTA]

Quero enfatizar que esta não é uma resenha do livro, é apenas um desabafo expresso com palavras, sobre uma das obras mais bem escritas que já li. Repito: Charlotte era incrível!

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